“Flowers of South-West Europe - a field guide” - de Oleg Polunin e B.E. Smythies
“Revisitas” de regiões esquecidas no tempo - “Plant Hunting Regions” - a partir de uma obra de grande valor para o especialista e amador de botânica como da Natureza em geral.
Por
Horst Engels, Cecilia Sousa, Luísa Diniz, Nicole Engels, José Saraiva
da
Associação “Trilhos d’Esplendor”
I .2 Relevo, Geologia, Clima e Vegetação da Península Ibérica
1.2 Relevo, Geologia, Clima e Vegetação da Península Ibérica
1.2.1c Relevo e Geologia - orogenia alpina
Polunin & Smythies escrevem (p. 5-7):
The new-fold mountains , or marginal ranges, include the Cantabrian mountains , the Pyrenees , and the Andalusian or Baetic mountains . They are all younger and composed largely of sedimentary rocks which have been thrust upwards against the hard crystalline core during the alpine upheavals 50-100 million years ago. They are the highest mountains of our area and are truly alpine in character. They have jagged peaks, steep ridges, deep valleys, and show all the features of recent weathering, and the effect of snow and ice. U-shaped glacial valleys, moraines, and glacial lakes, are found throughout the higher regions and although there are no glaciers of any size, patches of snow persist throughout the year in some ranges.
The Cantabrian mountains range along the northern coast of Spain and include the Picos de Europa, the highest group. With their very heavy rainfall from the Bay of Biscay, they put their mark on the whole character of this northern pluviose region of Iberia. The country is difficult, heavily wooded, and deeply dissected by spectacular gorges, or desfiladeros , which have been carved out by tumultuous rivers which carry off the heavy rainfall in their relatively short passage to the sea. The Spanish Basque lands form a complex of lower mountains of great diversity between the Cantabrian mountains and the Pyrenees.
The Pyrenees are certainly the most impressive and important of the new-fold mountains of our area and their general character and importance is described in the plant-hunting regional account (p. 136 below).
The Andalusian or Baetic mountains in the south-west of Spain run discontinuously from Gibraltar to Cebo de la Nao, and continue under the Mediterranean to the Balearic Islands. A great fault, running in the same general direction as these ranges, has dissected the region even more. To the north lie the more recent Sierra de Cazorla and Sierra de Segura; while to the south are the Sierra Nevada and the Serrania de Ronda. In general, their contours are more rounded than those of the other new-fold mountains, and even the highest peak of the Sierra Nevada , Mulhacen, 3478 m, shows relatively little evidence of glacial activity, while the micaceous schist of which the summits of the sierra are composed makes for a barren and forbidding landscape, very like that of the Atlas mountains of North Africa. The Sierra Nevada seems a rocky wilderness with rounded peaks, with the northern slopes so gentle that a road goes to the summit. The aridity of the whole range is coupled with occasional torrential rains which have carved out deep river gorges, with but a trickle of a stream for the greater part of the year in their slaty bottoms. Elsewhere there is typical bad-land scenery of the severest kind with steeply eroded gullies running down through the soft tawny layers of more recent geological deposits.
The other important ranges of the Andalusian mountains are the Serrania de Ronda and Sierra de Grazalema, the Sierras of Cazorla and Segura, which are all largely composed of limestone. All act as botanical refuges for old and retreating species and are consequently of great interest, and they are briefly described in the accounts of plant-hunting regions (p. 67ff be low). But there are many other smaller sierras in the south which are less well known, and which will undoubtedly repay detailed botanical exploration.
As montanhas de foldagem (orogénese) moderna (regiões marginais) incluem na nossa área a Cordilheira cantábrica , os Pirenéus e a Cordeilheira Bética com as montanhas da Andalusia . Todas elas são de idade mais nova compostas largamente de rochas sedimentares empurrados e levantados contra o núcleo cristalino (placa ibérica) durante a orogenia alpina entre 50 e 100 milhões de anos atrás.
Orogenia caledoniana ( Laurência )
Orogenia caledoniana ( Báltica )
A Orogenia Alpina é uma etapa de formação de montanhas ( orogenia ) que durante o Cenozóico formou as principais cadeias montanhosas do sul da Eurásia , começando no Atlântico, passando pelo Mediterrâneo e Himalaia e terminando nas ilhas de Java e Samatra . Formaram-se de oeste para leste: Atlas , Pirenéus , Alpes , Alpes Dináricos , Montes Pindo , Balcãs , Taurus , Cáucaso , Cordilheira Elbruz , Cordilheira de Zagros , Hindu Kush , Pamir , Karakorum e Himalaia. Na actualidade, o processo ainda continua em algumas das cadeias montanhosas.
A Orogenia Alpina produziu-se quando África , Índia e a pequena placa de Cimmeria chocaram contra a Eurásia. O subcontinente indiano começou a chocar com a Ásia há cerca de 55 milhões de anos, começando com a formação do Himalaia há entre 52 e 48 milhões de anos e terminando finalmente no extremo leste da via marítima de Tetis . Ao mesmo tempo, a placa africana começou a mudar de direcção, de oeste para noroeste no sentido da Europa. Os movimentos convergentes entre as placas tectónicas começaram já no Cretácico Inferior, mas as grandes etapas de formação de montanhas iniciaram-se entre o Paleoceno e o Eoceno . A maioria da orogenia produziu-se durante o Oligoceno e o Mioceno . As etapas centrais, que englobam a formação dos Alpes e dos Cárpatos na Europa e do Atlas no norte de África produziram-se entre há 37 e 24 milhões de anos. Esta colisão continua hoje a verificar-se.
As montanhas da orogenia alpina na Península Ibérica são as montanhas mais altas desta região e de carácter verdadeiramente alpino. Possuem picos escarpados, cristas íngremes, vales profundos e mostram todos as características de intempéries recentes e dos efeitos da neve e do gelo. Encontram-se vales glaciares em U,
Vale glaciar em U nos Pirenéus - (Orogenia alpina)
Vale glaciar em U do Rio Zêzere na Serra da Estrela, Portugal (ainda Orogenia hercínica)
morenas (moreias)
Moreia na confluência dos antigos glaciares do Zêzere e da Candeeira.
Serra da Estrela. Portugal (ainda Orogenia hercínica)
e lagos glaciares
Lago de Gaube ( Parque Nacional dos Pirenéus )
nas regiões mais altas e embora existirem apenas alguns glaciares na área (por exemplo os pequenos glaciares do Monte Perdido nos Pirenéus Centrais, o glaciar del Aneto e o glaciar d’Ossoue do Vignemale), as manchas de neve persistem ao longo do ano em algumas regiões.
Monte Perdido (esquerda) e Cilindro (direito) nos Pirenéus
Glaciar do Monte Perdido (Pirenéus)
A Cordilheira Cantábrica estende-se ao longo da costa norte atlântica da Península Ibérica e inclui os Picos de Europa o grupo de montanhas mais altas nesta cadeia.
Naranjo de Bulnes - Picu Urriellu - visto a partir de Pozo de la Oración, Cabrales, Asturias.
Com a sua pluviosidade elevada resultante da influência da Baía da Biscaia, esta cordilheira marca toda região do Norte da Península Ibérica. O terreno é de difícil acesso, com densas florestas e dissecada por desfiladeiros espectaculares que foram cavadas por rios turbulentos que carregam as águas das chuvas intensas por uma relativamente curta distância ao Oceano Atlântico.
Desfiladeiro do Rio Cares, Picos de Europa
Desfiladeiro de la Hermida, Picos de Europa
O País Basco forma outro complexo de montanhas relativamente baixas de grande diversidade entre as Montanhas Cantábricas e os Pirenéus.
Ujue (País Basco, Espanha)
Paisagem em Roncesvalles nos Baixos-Pirenéus (Navarra, Espanha)
Colegiada de Roncesvalles (Navarra, Espanha)
Os Pirenéus são de certeza as mais impressionantes das montanhas da orogenia alpina. Estendem-se da Baía de Biscaia até ao ao Mediterrâneo numa distância de cerca de 450km. Na parte mais larga eles têm cerca de 130km de largura e desta forma constituem uma barreira significante para qualquer migração de plantas e/ou animais. O pico mais alto, o Pico de Aneto , tem 3404m de altitude NN; mas mais significativo é que na parte central as altitudes nunca são inferiores à 1700m. Como os Alpes, os Pirenéus possuem também um núcleo cristalino de rochas duras composto por granito, gneisses e xistos cristalinos, de erosão lenta, e faixas exteriores de rochas sedimentares pouco alterados, em geral do Mesozóico e do Terciário (Cenozoico) com predominância de calcários.
Mas ao contrário aos Alpes os Pirenéus possuem apenas alguns glaciares - como o glaciar del Aneto , o glaciar d’Ossoue do Vignemale ou o glaciar do Monte Perdido .Segundo um estudo do Ministério espanhol de Ambiente, entre 2002 e 2008 mais do que 25% da área do gelo glaciar desapareceu na parte espanhol dos Pirenéus; desde o primeiro inventariado no fim do século IX a área dos glaciares espanholes foi reduzido 88% e a área recente é de apenas 208 hectares; segundo estudiadores espanhóis, já podem todos os glaciares dos Pirenéus desaparecer até ao metade do século (até 2050) se o aquecimento global continuar com a actual tendência.
No entanto existem evidências pelos lagos glaciares, vales em forma U e moreias de ampla presença antiga de glaciares nos Pirenéus. A afirmação no Polunin e Smythies [1] que não existem glaciares nenhuns nos Pirenéus, não pode ser mantida desta forma, mas possivelmente ou até provavelmente tornará-se uma realidade daqui há meio século.
Glaciar de Ossoue (Vignemale) nos Pirenéus
Na generalidade as encostas norte dos Pirenéus na parte da França são muito íngremes e caem abruptamente para o país baixo da Aquitânia enquanto na parte espanhola encontra-se uma série de cristas progressivamente mais baixas antes da entrada na planície da bacia do rio Ebro .
Em concordância com a teoria moderna da tectónica de placas estas montanhas formaram-se quando a placa ibérica foi por subdução mergulhada parcialmente por baixo da placa europeia durante o final do Cretácico até ao Miocénico (55-25Ma).
O perfil dos Pirenéus tem estrutura em forma de legue, com empurrões (thrust faults) na zona norte como da zona sul. Pode dividir-se a cadeia das montanhas em 5 zonas estruturais :
- a bacia (forelands) de Aquitânia com sedimentos deformados do Cretácico provenientes da placa europeia;
- A zona norte de falhas dos Pirenéus com empurrões (thrust faults) na core cristalina e nos sedimentos do Mesozóico e do Eocénico;
- a zona axial com três nappes maiores da core cristalina;
- a zona sul de falhas com empurrões (falhas inversas) de sedimentos deformados do Eocénico e Miocénico;
- a bacia (forelands) do rio Ebro com molasses e enchida com sedimentos pouco perturbados.
Zona Axial: Rochas graníticas da orogenia hercínica (Variscan) e sedimentos do Paleozóico; Zona de Empurrões (Thrust Zone): Sedimentos deformados do Mesozóico e Cenozoico; Bacias dos forelands: Sedimentos não deformados do Cenozoico. (Segundo SCHELLART 2002) [2] .
A assimetria dos Pirenéus (o encurtamento estimado é de 70km no sul e 32km no norte) já reconhecido no tempo de A. v. Humboldt explica-se hoje por rotação por “raízes assimétricas” (mountain roots) de montanhas, onde a placa ibérica foi parcialmente deslizada por subdução por baixo da placa europeia.
Os rios têm de correr frequentemente em paralelo às cristas e montanhas nas zonas mais baixas antes de cortar em vales profundes estas cristas e de desaguar finalmente no Ebro.
Os Pirenéus actuem também como uma barreira climática e causam que muita da humidade que provém do Atlântico é precipitada nos lados franceses dos Pirenéus. Ao contrário do norte, os lados sul dos Pirenéus têm muito pouco precipitação, e na realidade algumas áreas são as mais áridas da Espanha.
A vegetação das zonas alpinas e subalpinas dos Pirenéus Franceses e Espanholes diferem muito neste aspecto. Os Pirenéus altas têm Verões bastante quentes com trovoadas violentas que ocorrem com alguma regularidade de quatro em quatro dias entre Agosto e Setembro, mas os restantes meses são secos. Em inverno a queda de neve é muita forte e a primavera chega relativamente tarde.
A Cordilheira Bética ou as montanhas da Andalusia no Sul-Oeste da Espanha estendem-se descontinuamente de Gibraltar até ao Cabo de la Nau e que mesmo contínua por baixo do mar para reaparecer nas ilhas Baleares .
Uma grande falha que corre na mesma direcção coma as cadeias de montanhas, divide a região ainda mais. Por norte encontra-se a Sierra de Cazorla e Sierra de Segura numa área externa do Sistema Prebético ; por sul encontra-se nos Cordilheira Penibética (Béticas Internas) a Sierra Nevada e a Serranía de Ronda .
Em geral, os contornos destas montanhas são mais suaves e arredondados do que nas outras montanhas da orogenia alpina, e mesmo os picos mais altos da Serra Nevada, o Mulhacén com 3478 m NN, mostra pouca evidência de actividade glaciar enquanto os xistos micáceos destas cimeiras apresentam uma paisagem estéril e proibitiva muito parecida com os do cadeia do Atlas da África de Norte.
A Serra Nevada parece uma selva rochosa com cimeiras redondas e com as encostas de norte tão suaves que até uma estrada pode conduzir até à cimeira.
Estrada para o Pico do Mulhacén, Sierra Nevada
A aridez desta região está ligada à chuvas às vezes torrenciais que cavaram vales fundos, mas com uns riachos com umas gotas de água durante o resto do ano. Outros sítios apresentam paisagens semi-áridas ( badlands ) com regatos profundos de erosão que escorrem as camadas pouco declivadas de depósitos geológicos mais recentes.
As outras regiões importantes de montanhas da Andalusia são a Serranía de Ronda e a Sierra de Grazalema , as Sierras de Cazorla e Segura maioritariamente compostas de calcários. A Serranía de Ronda representa uma exposição de peridotite , a maior exposição mundial, uma rocha ígnea plutónica de grão grosseiro, composta sobretudo por olivina , com ou sem outros minerais máficos como piroxenas , anfíbolas ou micas , com pouco ou nenhum feldspato .
Todas estas serras actuam de refúgios de espécies de plantas antigas e desta forma de grande interesse botânico. Mas existem muitas outras pequenas serras na região pouco estudados no sul que sem dúvida merecem uma exploração botânica detalhada.
Veja à seguir: 1.2.1d Relevo e Geologia - as depressões
[1] “ ...But with contrast to The Alps they have no glacier of any size today, though there is abundant evidence of glaciation during the ice age …” (p.136 de “ Polunin & Smythies ”)
[2] SCHELLART, W.P. 2002: Alpine deformation at the western termination of the Axial Zone, Southern Pyrenees. In: Rosenbaum, G. and Lister, G.S.2002. Reconstruction of the evolution of the Alpine-Himalayan Orogen. Journal of the Virtual Explorer, 8, 35-55
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