“Flowers of South-West Europe - a field guide” - de Oleg Polunin e B.E. Smythies
“Revisitas” de regiões esquecidas no tempo - “Plant Hunting Regions” - a partir de uma obra de grande valor para o especialista e amador de botânica como da Natureza em geral.
Por
Horst Engels, Cecilia Sousa, Luísa Diniz, Nicole Engels, José Saraiva; Victor Rito
da
Associação “Trilhos d’Esplendor”
2.1 O Algarve
2.1. Algarve 2.1.1 The coastal zone (Littoral) 2.1.1.1 Barlavento (Ocidental) 2.1.1.1.1 Costa Vicentina 2.1.1.2 Centro 2.1.1.3 Sotavento (Oriental) 2.1.2 The limestone zone (Barrocal) 2.1.3 The Serras 2.1.3.1 Monchique 2.1.3.2 Malhão 2.1.3.3 Caldeirão |
2.1.1.1.1 Costa Vicentina
Extrato do Mapa de Solos e da Vegetação da Península Iberica. de Moritz Willkomm (1852) [1]
Por oeste de Lagos a faixa de colinas costeiras torna-se cada vez menos fértil e menos povoada, e o viajante chega aos promontórios ventosos e dramaticamente áridos de Sagres e Cabo de São Vicente .
Ponta de Sagres
Estes promontórios são compostos de rochas calcáreas duras dolomíticas, desgastadas e batidas pelo tempo numa plataforma de aparância cárstica que termina abruptamente em falésias suspensas e verticais de 80m de altitude, com o mar azul ao fundo. Embora, com pastoreio intenso por gado e ovelhas, a maior parte do promontório de Sagres , do Cabo de São Vicente e da Costa Vicentina do Sudoeste Alentejano (desde 1988 Paisagem protegida e desde 1995 Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina ) do Alentejo Litoral ( PTZPE0015 ) encontra-se relativamente pouco perturbado pelo homem e é por aí que se encontra uma flora muito distinta e interessante (veja Flora vicentina ).
A flora do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina distribui-se por três tipos de ambientes geomorfológicos:
- barrocal ocidental, no planalto vicentino a sul, com vegetação típica de solos calcários, numa zona de clima seco e quente;
- planalto litoral, com vegetação mais diversificada, nas dunas, charnecas e áreas alagadiças.
- serras litorais e barrancos, mais frescos e humidos, com densa vegetação arbórea e arbustiva ladeando as ribeiras.
Ao longo do parque ocorre uma mistura de vegetação mediterrânica , norte-atlântica e africana , com predominância para a primeira. Há cerca de 750 espécies, das quais mais de 100 são endémicas , raras ou localizadas; 12 não existem em mais nenhum local do mundo. Na área do parque encontram-se espécies consideradas vulneráveis em Portugal, assim como também diversas espécies protegidas na Europa .
A planta dominante é † Cistus palhinhae formando um arbusto baixo e compacto agregado em grupos; com folhas de um brilho intenso e flores puramente brancas do tamanho de Cistus ladanifer com que é estreitamente aparentada. As outras espécies comuns de cistáceas são Cistus salvifolius e Cistus albidus , Cistus monspeliensis com flores brancas mais pequenas e Cistus crispus com flores cor de rosa.
Cistus palhinhae ao pé do Cabo de São Vicente [2]
Cistus palhinhae
Associadas com as espécies de Cistus encontram-se espécies comuns do matorral como:
Arbustos |
Herbáceas |
Juniperus phoenicea |
Anemone palmata |
Dorycnium hirsutum |
Silene colorata |
Pistacia lentiscus |
Iberis procumbens |
Malva hispanica |
Onobrychis peduncularis |
Daphne gnidium |
Lithospermum apulum |
Halimium commutatum |
Salvia verbenaca |
Helianthemum origanifolium |
Campanula lusitanica |
Corema album |
Campanula rapunculus ssp. verruculosa |
Lithospermum diffusum ssp. lusitanica |
Calendula suffruticosa |
Lavandula stoechas |
Asteriscus maritimus |
Rosmarinus officinalis |
Dipsaci serotinum |
† Thymus camphoratus |
Narcissus obesus |
Em Abril o crave-das-areias † Armeria pungens é uma boa atração, a alquitira do Algarve, † Astragalus massiliensis começa a abrir as suas flores brancas, como também a arbustiva Calendula sufruticosa com as suas flores cor de laranja.
Astragalus massiliensis [3]
Antirrhinum majus ssp. linkianum tem desenvolvido o seu hábito curioso de crescer no meio de arbustos e de assegurar-se perante os seus rebentos e petíolos jovens que serpenteiam à volta de ramos. Uma forma anã da Flor de cera Cerinthe major ssp. gymnandra com folhas eriçadas e flores brancas pálidas, com rebordo amarelo e manchas violáceas e amarelas na base da corolla, ocorre aqui e acola.
Cerinthe major ssp. gymnandra [4]
Noutras plantas de interesse especial incluem-se † Biscutella vincentina , distinguida como todos os membros do género pelos frutos (discos em pares),
No blogue Flora Vicentina são listadas as seguintes orquídeas para a costa Vicentina:
- Gennaria diphylla
- Ophrys apifera
- Ophrys lutea
- Ophrys speculum
- Ophrys tenthredinifera
- Orchis champagneuxii
- Orchis italica
- Serapias cordigera
Os seguintes endemismos são listadas também no blogue da Flora Vicentina :
- Astragalus tragacantha vicentinus
- Bellevalia hackelii
- Centaurea fraylensis
- Daucus halophylus
- Hyacinthoides vicentina
- Jonopsidium acaule
- Linaria algarviana
- Silene rothmaleri
- Thymus camphoratus
- Ulex erinaceus
E outras espécies desta região são:
- Allium subvillosum
- Anagallis monelli
- Antirrhinum majus cirrhigerum
- Armeria beirana
- Armeria macrophylla
- Armeria pungens
- Astericus maritimus
- Crocus serotinus
- Cynara algarbiensis
- Helianthemum marifolium origanifolium
- Lavandula luisieri
- Lavatera mauritanica davaei
- Narcissus gaditanus
- Narcissus obesus
- Paeonia broteri
- Reichardia gaditana
- Scilla peruviana
- Serratula monardii
- Viola arborescens
Biscutella vincentina [5]
† Viola arborescens , em solos calcários de promontórios rochosos (também ocorre perto de Trafalgar),
Viola arborescens [6]
† Teucrium polium ssp. dunense
Teucrium dunense [7]
e † Hyacinthoides ( Scilla) vicentina com pares de brácteas na base de cada flor.
Hyacinthoides vicentina [8]
A rara Cocleária-menor † Jonopsidium acaule [9] forma as suas tapetes aqui e acolá e está em floração em Fevereiro ou até Janeiro, e uns poucos exemplares do Jacinto-azul-do-Algarve † Bellevalia hackelii podem ser encontradas no promontório de Sagres. Em terras mais abrigadas pode ser observada o azul brillante de Anagallis monelli em contraste às flores minúsculas brancas com cheiro doce de Lobularia maritima ; 2 espeécies com inflorescências roxas são Rumex intermedius e Rumex papillaris ; Nepeta tuberosa é espectacular ao longo do percurso.
Jonopsidium acaule [10]
Bellevalia hackelii [11]
Nepeta tuberosa
Também Willkomm [12] já descreveu a Flora do Cabo de São Vicente em 1896 e deliniou o interesse especial que esta flora tem devido às espécies endémicas que aí se encontram (p. 292):
“Ein in floristischer Beziehung besonders interessanter Punkt ist das hügelige Felsplateau des Cabo de S. Vicente, indem hier eine Anzahl peninsularer (meist endemischer) Arten ihre westliche oder südliche Grenze in Europa oder überhaupt finden, andere nur oder vorzugsweise hier vorkommen, nämlich: Macrochloa † tenacissima (L.) Kth., Juncus † valvatus Lk. ( J. echinuloides Brot.), Scilla † mauritanica Schousb. ( S. vincentina Hffgg. Lk., einziger bekannter Standort in Europa!), Teucrium vincentinum Rouy, Lithospermum *prostratum Lois., Linaria amethystea Hffgg. Lk. und Linaria satureioides Boiss., Helichryson † serotinum Boiss., Centaurea polyacantha Boiss. und (L) Centaurea vincentina Welw. (nur an einigen Punkten der Küstenzone Alemtejo's und am Cap St. Vincent), Cynara (L) algarbiensis Coss., Onobrychis † eriophora Desv., Astragalus ** massiliensis Lam. (A. Poterium Brot., in Portugal nur hier und am Cabo de Sines), Euphorbia baetica Boiss., Cistus hirsutus Lamk., Helianthemum † origanifolium P. (einziger Standort in Portugal!), Iberis pectinata Boiss., Astrocarpus ** Clusii J. Gay, Diplotaxis † virgata DC.
Werner Rothmaler fez em 1943 um estudo fitossociológico do Cabo São Vicente no seu trabalho de habilitação: Promontorium Sacrum, Vegetationsstudien im südwestlichen Portugal. [13]
Biogeograficamente o Cabo de São Vicente é caracterizado como o Superdistrito Promontório Vicentino , constituindo em conjunto com o Superdistrito Costeiro Vicentino e o Superdistrito Algárvico o Sector Algarviense , caracterizados fitosociologicamente por Costa et. al. [14] em “ Biogeografia de Portugal ”. A área do Cabo São Vicente liga assim os Superdistritos Costeiro Vicentino e Algárvico pelos elementos florísticos em terrenos calcáricos que se encontram em algumas partes do Baixo Alentejo (por exemplo na zona da Praia da Carrapateira) e sobretudo no Barrocal do Algarve:
O Superdistrito Costeiro Vicentino é um território silicioso, constituído por areias (charnecas) e xistos, com a excepção da Carrapteira que é calcícola, situado entre Melides e os calcários da Península de Sagres. Uma grande área de dunas consolidadas e dunas fósseis sobre xistos situa-se nesta unidade. É rica em endemismos: Avenula hackelii , Centaurea vicentina, Chaenorrhinum serpylifolium subsp. lusitanicum, Herniaria algarvica, Linaria algarviana, Malcolmia littorea var. alyssoides, Plantago almogravensis, Serratula monardii subsp. algarbiensis e Scrozonera transtagana . O Stauracanthus spectabilis subsp. spectabilis na Europa tem neste Superdistrito a única área onde pode ser observado. Thymus camphoratus, Linaria ficalhoana, Iberis contracta subsp. welwitschii, Herniaria maritima, Hyacintoides vicentina subsp. transtagana, Centaurea crocata, Cistus ladanifer subsp. striatus, Limonium lanceolatum, Stauracanthus spectabilis subsp. vicentinus, Littorella uniflora são outros táxones diferenciais deste território. O Thymo camphorati-Stauracanthetum spectabilis, Genisto triacanthi-Stauracanthetum vicentini e Genisto triacanthi-Cistetum palhinhae são comunidades que só se assinalam neste Superdistrito, no entanto também contribuem para a sua caracterização: Oleo-Quercetum suberis, Myrto-Quercetum suberis, Querco cocciferae-Juniperetum tubinatae, Osyrio quadripartitae-Juniperetum turbinatae, Rubio longifoliae-Coremetum albi, Querco lusitanici-Stauracanthetum boivinii, Stipo giganteo-Stauracanthetum vicentini, Artemisio crithmifoliae-Armerietum pungentis, Herniario algarvicae-Linarietum ficalhoanae, Dittrichietum revolutae. O território, que vai desde a Península calcária de Sagres até à Ponta de Almedena, é designado por Superdistrito Promontório Vicentino , é uma área psamofílico Thymo capitellati-Stauracanthetum genistoidis . No entanto, possui algumas comunidades endémicas: o matagal de carvalhiça Junipero navicularis-Quercetum lusitanicae , o zimbral Daphno gnidi-Juniperetum navicularis, o tojal/urzal mesofítico Erico umbellatae-Ulicetum welwitschiani, o prado psamofílico anual Anacortho macranthero-Arenarietum algarbiensis e o mato camefítico de areias nitrofilizadas Santolinetum impressae. As associações de lagoas e turfeiras estão presentes nas depressões húmidas: - o salgueiral palustre Carici lusitanicae-Salicetum atrocinereae, o urzal/tojal higrófilo Cirsio welwistschii-Ericetum ciliaris, o juncal/arrelvado hidrofítico Cirsio palustris-Juncetum rugosi, a associação de lagoas Anagallido tenellae-Rhynschoporetum rugosi e as turfeiras baixas Utriculario gibbae-Sphagnetum auriculatae. No que respeita à vegetação litoral, nas cristas dunares observa-se o Loto cretici-Ammophiletum australis e nas dunas semifixas o Artemisio crithmifoliae-Armerietum pungentis linarietosum lamarckii. O Herniario algarvicae-Linarietum ficalhoanae bem como o Osyrio quadripartitae-Juniperetum turbinatae e o Rubio longifliae-Coremetum albi ocorrem nas dunas fixas. É no sapal do Tejo que a maioria das comunidades mediterrânicas que se distribuem pela Província atingem o seu limite setentrional. Como exemplo, cite-se Sarcocornio perennis-Puccinellietum convolutae, Cistancho phelypaeae-Arthrocnemetum fruticosi, Arthrocnemo glauci-Juncetum subulati, Cistancho phelypaeae-Suaedetum verae, Polygono equisetiformis-Juncetum maritimi, Suaedo splendentis-Salicornietum patulae, Spergulario bocconei-Mesembryanthemetum nodiflori, sendo os salgados do Sado o limite do Frankenio laevis-Salsoletum vermiculatae e Cymodoceetum nodosae. Ocorrendo ainda Zosteretum noltii, Spartinetum maritimae, Halimiono portulacoidis-Sarcocornietum alpini, Inulo crithmoidis-Arthrocnemetum glauci, Halimiono portulacoidis-Salicornietum patulae.
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Biogeografia de Portugal - Superdistritos
A seguir a lista de espécies de plantas vasculares registadas na FLORA-ON (quadrícula UTM NA09 ) do Cabo de São Vicente da costa Vicentina que demonstra toda riqueza florística desta região:
Uma flora parecida com a Flora vicentina do Cabo de São Vicente, mas menos exposta e anã, pode ser observada por baixo da proteção de Pinus pinea acima de dunas de areia na costa oeste, quando se sai da Estrada de Lisboa cerca de 2km por oeste de Bordeira , e no promontório de Pontal .
Flora Costa Vicentina UTM NB01 (Carrapateira)
Birdwatching
O Cabo de São Vicente [15] e a Costa Vicentina [16] também são sítios importantes para observação de Aves. Quando as condições meteorológicas são favoráveis, estes são locais privilegiados para a observação de aves [17] em migração, especialmente no Outono. O Guia “ birdwatching guide to the algarve ” dedica um capítulo (capítulo 7) à Península de Sagres devido à importância que esta área tem para a observação de Aves.
Algarve (from Polunin & Smythies 1987)
Algarve (from Polunin & Smythies 1987)
Veja à seguir: 2.1.1.2 Centro (Littoral)
[1] Moritz Willkomm (1852): Die Strand- und Steppengebiete der iberischen Halbinsel und deren Vegetation. Leipzig 1852.
[12] WILLKOMM, M. (1896) - Grundzuege der Pflanzenverbreitung auf der iberischen Halbinsel . In Sammlung von Engler, A. und Drud, O.: Die Vegetation der Erde . Engelmann. Leipzig
[13] ROTHMALER, W. (1943) - Promontorium Sacrum, Vegetationsstudien im südwestlichen Portugal. Repert. Spec. Nov. Regni Veg. Beih. 128 .
[14] COSTA, J.C., AGUIAR, C., CAPELO, J.H., LOUSÃ, M., NETO, C., 1998. Biogeografia de Portugal Continental . Quercetea 0. Lisboa, Portugal, 55pp.
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