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"Polunin - Flowers of South-West Europe - revisited" (Vol. I - Introdução - 371 pp.) (-> Polunin - Flowers of South-West Europe - revisited" -> View & Download (Vol. II - Portugal - 1559 pp.) -> View & Download

(contains Web links to Flora-On for observed plant species, Web links to high resolution Google satellite-maps (JPG) of plant-hunting regions from the Iberian peninsula; illustrated text in Portuguese language)



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Polunin - Flowers of South-West Europe - revisited - última compilação

Polunin - Flowers of South-West Europe - revisited (Volume I - Portugal) Download PDFs (>300MB)

domingo, 13 de janeiro de 2013

Flowers of South-West Europe revisited (3.4 - Recolha de Dados)

“Flowers of South-West Europe - a field guide” - de Oleg Polunin e B.E. Smythies

“Revisitas” de regiões  esquecidas no tempo - “Plant Hunting Regions” - a partir de uma obra de grande valor para o especialista e amador de botânica como da Natureza em geral.

Por

Horst Engels, Cecilia Sousa, Luísa Diniz, Nicole Engels, José Saraiva; Victor Rito

da

Associação “Trilhos d’Esplendor”

III - Levantamento de Dados

3. Levantamentos  de Dados

3 .1 Fotografia  

3.2 Identificação de plantas

3. 3   Mapas e cartografia

3.4 Narrativas

3.5 Indicadores ambientais (EEA-2012)

3.6 Inqueritos

3.7 Antropologia Médica

3.8 Pesquisas ornitológicas

3.4 Narrativas

Exemplos de narrativas

Exemplo 1 - Sítio: Alto dos Barreiros, Coimbra, Portugal

Flora - mancha muito reduzida em terreno calcário do jurássico que se estende da Serra dos Candeeiros, Coimbra pelo Vale do Mondego e que se prolonga na Serra da Boa Viagem e Souselas. Este mancha foi designada por Udo Bohn  na finalização do “ Map of the Natural Vegetation of Europe” [1]   como “ G75 [2] .

O “ G75 ” tem uma flora mediterránica característica que descrevemos em pormenor na " Flora Virtual do Alto dos Barreiros, Coimbra " e na " Flora da Serra da Boa Viagem e do Triângulo do Cabo Mondego ". Relatamos que mais do que 90% da flora destes sítios é composta por espécies idênticas - que surgira que é mesmo o solo que determina a composição destas comunidades fitossociológicas. No entanto, a vizinhança do mar no caso da Serra da Boa Viagem e do Cabo Mondego conduziu para modos de vida bem diferentes das ppopulações locais.

...G.4.3 Portuguese meso-Mediterranean basiphilous Quercus faginea subsp. broteroi forests

The subgroup consists of one mapping unit (G75), which has been described as Arisaro simorrhini-Quercetum broteroi Br.-Bl., P. Silva et Roseira 1956 from Portugal, and assigned to the alliance Quercion ilicis . It consists of meso-Mediterranean sites on limestone and marl.

These three-layered forests consist of Quercus faginea subsp. broteroi in the tree layer with Laurus nobilis and locally Quercus ilex subsp. rotundifolia . The shrub layer consists of predominantly Mediterranean, mostly evergreen species ( Arbutus unedo , Viburnum tinus , Daphne gnidium , Pistacia lentiscus , Quercus coccifera , Ruscus aculeatus , Rubus ulmifolius , Osyris alba ). Lianas likewise play an important role ( Smilax aspera , Rubia peregrina subsp. longifolia , Asparagus aphyllus , Hedera helix ). In the herb layer, species including Coronilla valentina subsp. glauca , Vinca difformis , Arisarum simorrhinum and Teucrium scorodonia are found.....

Narrativa 1

Senhor Diamantino , habitante do Alto dos Barreiro em Coimbra, faleceu há 15 anos (em 1997), sempre tratou uma mancha da flora G75, para o senhor provavelmente um bocadinho de mato amado que existe em frente da sua casa. O senhor roçava o mato para fazer feno, tinha algum terreno cultivo com nogueiras e outras árvores, um burro, umas ovelhas e galinhas na sua casa, portanto uma pequena “ quinta ” com agricultura extensiva na parte oeste do Alto dos Barreiros. Assim conferiu certas características à vegetação em frente da sua casa, roçando o mato por baixo e à volta dos pinheiros num pinhal com uma flora tipicamente mediterrânica e alguns elementos atlânticos como Arbutus unedo , mas sobretudo manteve-o pinhal penetrável. Além disso ele cuidava das árvores, Pinus pinaster  - árvore mais abundante na vizinhança da casa - e quando havia árvores doentes ele cortava as. A partir do momento quando Senhor Diamantino  faleceu, todo este cuidado com a Natureza acabou. O filho ainda tentou continuar o trabalho do pai, mas o seu emprego não permitiu tal esforço. Resultado à vista: o mato é quase impenetrável (maquis mediterrânico) e mais do que 50% dos pinheiros estão secos em 2012. O terreno pertence actualmente aos Serviços Sociais de Coimbra e está à venda pelo Igfss ( Igfss  - Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social, I.P.).  Naturalmente, uma doença dos pinheiros causou esta panorâmica, mas também a interrupção da ligação entre Homem e Natureza....

… e além de constituir sem dúvida um perigo elevado para incêndios, sobretudo na imediata vizinhança das habitações, a questão será se a doença destes pinheiros mortos ou doentes não promulgará a infecção e o contágio dos outros ainda não afectados!

… E assim apresenta-se a mesma mancha de pinhal durante e após uma tempestade em 19 de Janeiro 2013. Não apenas os pinheiros mortos ou doentes foram quebrados pelas forças do vento, mas também aqueles que tinham até agora resistido ou que não foram afectados pela doença dos Nemátodes. No entanto, parece que as previsões da mudança do clima e do aumento da violência nas tempestades previsto nos scenários da mudança do clima começa a ser realidade.

Na parte nord-este da encosta do Alto dos Barreiros existe outra pequena quinta, A “ Quinta da Dona Adélia ”. Nesta quinta já praticava-se o pastoreio em maior extensão - há 5-10 anos havia cerca de 80 peças de gado de ovelhas nesta quinta. Eram dois irmãos, o senhores Valdemar e António, ambos já falecidos, que tomaram conta do gado e pastavam no nesta parte da encosta do Alto dos Barreiros. Todos os dias iam com os animais para o campo que assim manteve o aspecto típico da flora mediterrânica influenciada sob o pastoreio das ovelhas.

O pastoreio ainda existe nesta parte da encosta porque a Senhora Adélia tomou conta do gado depois dos dois irmãos terem falecidos. Agora a familia ainda tem 25 ovelhas. O marido da senhora foi funcionário público, está reformado, e o casal tem uma filha que é professora das Belas Artes. Assim é provável que daqui há mais uma década o pastoreio já não existirá no Alto dos Barreiros.

Numa conversa com a Senhora Adélia ela confessou que a agricultura por si não dá para sustentar uma família. Tem de haver outros fontes de rendimento em paralelo.

A segunda causa do provável desaparecimento dos costumes tradicionais nesta encosta será a pressão urbanística.  Antes “Zona Verde”, este estatuto protector parece ser tido retirado ao Alto dos Barreiros pela Câmara de Coimbra devido à pressão urbanística que existe na cidade. Neste momento já começaram as construções na parte Norte do Alto dos Barreiros que no entanto são interrompidas ou foram abandonadas.

A “ Quinta do Machado ”, mais uma pequena quinta no sul do Alto dos Barreiros já desaparaceu nos anos de 1970 quando esta parte do Alto dos Barreiros foi urbanizada.

Assim as pequenas quintas com agricultura extensiva deixam de existir uma depois de uma no Alto dos Barreiros, a serem substituídas por zonas de habitação da cidade de Coimbra (se a tendência de construção continuar). Com isso vai desaparecer também a flora característica desta colina com umas das poucas manchas ainda existentes de Quercus lusitanica nesta área e com uma estrutura sociológica antiga e característica que está em vias de desaparecimento.

Fotografias:

Alto dos Barreiros (Coimbra); pequenas quintas com agricultura extensiva e urbanizações recentes (na fotografia bem distinguível a zona do pastoreio à volta de uma quinta)

Ovelhas no pastoreio; na parte de frente Carlina corymbosa  e Scolymus hispanicus

Crataegus monogyna  - os ramos inferiores reduzidas pela pastagem das ovelhas. À volta do arbusto Carlina corymbosa  e Scolymus hispanicus  .

Quercus lusitanica  com frutos

No Alto dos Barreiros existe além de Pinus pinaster e Pinus pinea  também o Pinheiro-de-Alepo ( Pinus halepensis ). Pinus halepensis  tem a sua distribuição autóctona na região mediterrânica e é provavelmente uma espécie introduzida em Portugal.

Exemplo 2 - Sítio: Serra da Boa Viagem, Figueira da Foz; Portugal

Narrativa 2  (Extrato do post: " Reintrodução de pastoreio  ...” Blog “ Habitats do Triângulo do Cabo Mondego (Figueira da Foz) ”, Associação “Trilhos d’Esplendor”, Figueira da Foz)

    A Serra da Boa Viagem situa-se por norte de Figueira da Foz - com prolongamento no Cabo Mondego. Ainda mais para Norte começa o cordão dunar de Quiaios, Mira, Gândara e Gafanhas. Esta serra com calcários e margas do Jurássico Médio e Superior é conhecida pela sua riqueza florística e pelo seu valor geológico com espólio rico de fósseis (incluindo algumas pegadas de dinossauros).

Menos conhecido é o valor que esta serra possui pela existência de prados do tipo "Prados rupícolas calcários ou basófilos" (habitat   6110  da classificação do Plano Sectorial da Rede Natura 2000) e "Prados secos semi-naturais e facies arbustivas em substrato calcário ( Festuco-Brometalia ) - importantes habitats de orquídeas" (habitat   6210  da classificação Plano Sectorial da Rede Natura 2000).

Sobretudo os prados semi-naturais da Serra da Boa Viagem devem ter a sua origem pelo pastoreio por gado de ovelhas e cabras, pastoreio que na encosta norte acima de Murtinheira deve ter sido bastante intenso há quase um século atrás. Um pastor desta época contou que tinha cerca de 80 peças de gado na altura.

Vista panorâmica da Encosta Norte da Serra da Boa Viagem

( Aumentar a vista panorâmica )

Fig. 1   Encosta Norte da Serra da Boa Viagem (contornado em vermelho: as falésias da serra com mosaicos de prados rupícolas (habitats 6110) intercalados com manchas de prados secos semi-naturais (habitat 6210) no alto da serra; contornado em verde:  manchas de prados secos semi-naturais (habitat 6210) na meia-encosta da Serra da Boa Viagem)

Senecio doronicum  , composta muito rara em Portugal, que existe na Serra da Boa Viagem

Rosmarinus officinalis

Os habitats 6210 e 6110 na encosta Norte da Serra da Boa Viagem

Esta actividade do pastoreio já não existe na Murtinheira e em Quiaios hoje em dia, nem a pesca artesanal com barcos de madeira que se praticava até há pouco nas praias da freguesia de Quiaios.

Neste momento a agricultura desta freguesia concentra-se numa exploração silvícola e limita-se quase totalmente à plantação de pinheiros, choupos, cedros e do eucalípto.

No entanto, biótopos como prados secos semi-naturais com dominância da gramínea Brachypodium phoenicoides  podem facilmente desaparecer com o desaparecimento do pastoreio caso de não haver outros factores que regulam o crescimento de matos esclerófilos e/ou de arbustivos e árvores. Com este desaparecimento de paisagens antropogénicas desaparecem também muitas espécies de plantas e de animais que necessitam destes biótopos de formações herbáceas. Em caso dos prados secos são as orquídeas e muitos geófitos que aumentam a biodiversidade dos biótopos e dos ecossistemas em que estão integrados, até ao momento em que estes biótopos deixam de existir.

Parece que este empobrecimento florístico está a acontecer neste momento devido ao abandono do pastoreio e à introdução de espécies de árvores não-autoctonas na Serra da Boa Viagem. Além das diversas espécies de acácias (p.e. Acacia longifolia ) e do eucalipto ( Eucalyptus globulus ), plantas de origem da Australia, foi provavelmente também introduzido há menos de 100 anos o Pinheiro-de-Alepo ( Pinus halepensis ) que está a invadir as encostas da Serra da Boa Viagem.

Fogos controlados são recomendados pelo ICNB para a conservação dos prados caso de não haver pastoreio, mas não são aconselháveis para a Serra da Boa Viagem devido à existência de aldeias e casas isoladas. Assim os prados semi-naturais (habitat 6210) frequentemente provenientes do pastoreio e/ou de fogos naturais ou controlados, parecem destinados a desaparecer na meia-encosta desta serra.

Nas falésias e nas partes mais altas com fortes declives da encosta, onde predomina uma vegetação rupícola (habitat 6110), a ameaça da invasão pelo Pinheiro-de-Alepo ainda não parece ser tão forte.

Pinus halepensis  na Serra da Boa Viagem

Segundo o testemunho de uma pessoa idosa de 78 anos da Murtinheira, havia antigamente muito pastoreio por cabras e ovelhas na costa da Serra da Boa Viagem e a encosta era limpa. Segundo o testemunho da pessoa havia já o Pinheiro-de-Alepo na encosta da serra, mas em menor quantia do que agora. Perguntando porque, a resposta foi: " Porque havia fogos e pastoreio ".

Também perguntei ao senhor se ele não achava boa ideia se houver uma reintrodução do pastoreio na Serra e nas encostas acima da Murtinheira?

Ele respondeu que sim, - mas não gostou de uma proposta à seguir de um envolvimento da Freguesia de Quiaios com um projecto comunitário de pastoreio.

Ele disse: "Isso é nosso e de mais ninguém". E a seguir disse correctamente: "Eu também não posso falar pelos outros".

Assim, não deve ser fácil tirar os medos e de convencer os habitantes da Murtinheira de um projecto comunitário para a conservação e recuperação dos prados da encosta.

Mas havia mais um argumento do senhor que também não é de desprezar. Ele disse: "...este pinheiro é pouco utilizado, mas tem uma madeira mais 'rija' do que o Pinheiro-bravo".

Na realidade, a madeira do Pinheiro-de-Alepo é utilizado como madeira de construção nos países de origem, sobretudo na Argélia e em Marrocos.

Distribuição nativa de Pinus halepensis  na Região mediterrânica. (From: Wikipédia)

Veja à seguir: 3.5 Indicadores ambientais

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[1]     The use and application of the map of the natural vegetation of Europe with particular reference to Germany   U Bohn… - Biology and         Environment: Proceedings of the Royal …, 2006 - JSTOR ...   BfN .de), Federal Agency for Nature Conservation, 53179 Bonn, Konstantinstrasse 110, Germany.

[2]  Veja (p.340) -> G.4.3 Portuguese meso-Mediterranean basiphilous Quercus faginea  subsp. broteroi forests em:   Udo Bohn et. al. Map of the Natural Vegetation of Europe           

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